Bindu - ponto ou gota. No tantra refere-se ao semen. É o ponto onde tudo surge e onde tudo retorna, contém simultaneamente o que cria e o que é criado, a consciência e a energia.Há quem diga que Yoga é uma filosofia de vida, outros dirão que é uma terapia, outros uma forma de arte, uma ginástica exótica, técnicas transcendentais, misticismo, seita, meditação, forma de estar, cultura... etc... Também não admira haver tanta opinião diversa, visto que o Yoga é algo que existe há milhares de anos, praticado por milhões de indivíduos, cada um com seu ponto de vista, com a sua percepção perfeitamente válida daquilo que será o Yoga, conforme o que vai sentindo no dia-a-dia.
A palavra Yoga como já muita gente sabe significa União, é este talvez o sinónimo mais aceite na comunidade yogi... Entretanto muitas outras definições surgiram de acordo com o interesse da pessoa. Na verdade o Yoga é sempre Yoga, o seu objectivo é o próprio Yoga, não é qualificável e não pretende, na minha opinião, resolver problemas de saúde ou tornar-nos felizes ou de qualquer outra forma. Como diz nos Yoga Sutras: para o yogi o karma nem é branco nem preto... Para o yogi que se realiza através do Yoga, que se dedica ao Yoga, o estado que fica é o de transcendência de estados, sejam eles positivos ou negativos... o yogi transcende as qualificações mentais a que a persona está sujeita... então ele nem fica feliz nem triste...
O Yoga visa o momento, a união entre passado e futuro num presente continuo, onde inevitavelmente o actor sai de cena. O ego e toda a construção da personagem sobrevive graças à sua memória que o recorda quem é e o impele a pensar e agir de determinada forma, condicionado pelo que fez ou deixou de fazer no passado. Esse ciclo continuo é formado por samskára-vásaná-vritti-karma-samskára-vásána-vritti-karma-samskára... Os samskáras são os condicionamentos que temos, os vásanás são as tendencias, as latencias, os vrittis são as ideias, pensamentos, instabilidades da consciência e finalmente karma é a acção. Enquanto não cortarmos pela raiz determinado samskára, este irá reforçar o tal ciclo viciado em que no final a acção reforçará ainda mais o samskára, criando uma bola de neve que parece não ter fim. Esse samskára pode ser entendido como a própria memória, o nosso cemitério particular.
Praticando a fundo o Yoga, estudando-o, reflectindo, observando, discernindo... vamos quebrando esses ciclos, arrancando esses samskáras e tudo o que vem agarrado a ele... no final o que resta? Resta o vazio, o abandono do ser.... e é muitas vezes isto que assusta o praticante, o medo de não-ser, de perder as suas referências, as suas características.... mas afinal o rio quando chega ao mar deixa de ser rio... Quando queremos realmente Yoga (e não apenas aquela ginástica exótica tão famosa) estejamos preparados para isso, para fundirmo-nos no vazio e transcender o ego, ou como muita gente não gosta de ouvir mas eu gosto de dizer: a morte do eu.

Porque afinal Yoga é Samádhi e Samádhi é morte. Morte em vida, é a destruição de Shiva, o perder as máscaras, as capas, as personagens, toda a artificialidade que criámos e reforçámos ao longo do tempo. Todo o mundo não quer sofrer, no fim das contas ninguém quer sofrer, e todas as filosofias e religiões se assemelham nesse ponto: arranjar uma forma de acabar com o sofrimento. No meu entendimento, para deixar de sofrer tenho que deixar de me identificar, pensar e agir sem tomar posse desses pensamentos e acções, sem me julgar o dono disto ou daquilo, sem deixar marca, nem pegadas, tornar-me poroso, tentando interferir o menos possível. E isso só acontece quando abandonamos o eu, quando não o alimentamos, quando abdicamos do protagonismo e da ilusão que isso acarreta. O yogi não renuncia à acção, até porque o mundo é acção e a Natureza não pára, o yogi renuncia aos frutos da acção e por isso não sofre.
Para o Yogi o verdadeiro desapego (vairágya) chega para nos realizarmos, nada mais é preciso. Esse vairágya é aceitar as coisas tal como elas são, nem mais nem menos. Para isso é necessário, em grande parte do processo, abhyása, constante prática e durante um período longo (tão longo for preciso para retirar os samskáras e afins). Esse abhyása é fundamental na prática do Yoga, mantermo-nos firmes, não deixando que a preguiça e outros se interponham na nossa vontade de Yoga. Todo o pequeno esforço que possamos despender em prol do Yoga, receberemos 10 vezes mais, 100 vezes mais em troca... é tão gratificante que fica dificil à pessoa que diz gostar e querer, arranjar desculpas para não o praticar.
Mantras (vocalizações de sons), Kriyás (purificação), Ásana (dinamica e inércia corporal), Bandhas (chaves de retenção e canalização da energia vital), Pránáyáma (respiratórios para expandir e controlar a energia vital), Yoganidrá (relaxamento), Dhyána (meditação), entre outras técnicas, são apenas oportunidades para nos experienciarmos, nos sentirmos, vermos outro ponto de vista e ir pouco a pouco retirando tudo o que não interessa, esvaziando-nos... No inicio parece dificil, suamos e pingamos frustrações, sentimo-nos humilhados (qual o ego que gosta disso?), criamos imensas resistencias... até que um dia conseguimos fluir e deixar-nos levar na prática, conduzidos pela vida, profundamente sintonizados e mergulhados no pulsar criativo universal. Aí, sem esforço algum, deslizamos em Yoga...
Em estado de Yoga não existe um Eu, é isso que experiencio, não me espera um estado de felicidade nem de tristeza, não me espera nada, e é esse nada que me pacifica, é nesse nada ser que encontro a plenitude. E o que resta então? Cabe a cada um descobrir e sentir...