sexta-feira, maio 09, 2008

YOGA BINDU

Bindu - ponto ou gota. No tantra refere-se ao semen. É o ponto onde tudo surge e onde tudo retorna, contém simultaneamente o que cria e o que é criado, a consciência e a energia.

Há quem diga que Yoga é uma filosofia de vida, outros dirão que é uma terapia, outros uma forma de arte, uma ginástica exótica, técnicas transcendentais, misticismo, seita, meditação, forma de estar, cultura... etc... Também não admira haver tanta opinião diversa, visto que o Yoga é algo que existe há milhares de anos, praticado por milhões de indivíduos, cada um com seu ponto de vista, com a sua percepção perfeitamente válida daquilo que será o Yoga, conforme o que vai sentindo no dia-a-dia.

A palavra Yoga como já muita gente sabe significa União, é este talvez o sinónimo mais aceite na comunidade yogi... Entretanto muitas outras definições surgiram de acordo com o interesse da pessoa. Na verdade o Yoga é sempre Yoga, o seu objectivo é o próprio Yoga, não é qualificável e não pretende, na minha opinião, resolver problemas de saúde ou tornar-nos felizes ou de qualquer outra forma. Como diz nos Yoga Sutras: para o yogi o karma nem é branco nem preto... Para o yogi que se realiza através do Yoga, que se dedica ao Yoga, o estado que fica é o de transcendência de estados, sejam eles positivos ou negativos... o yogi transcende as qualificações mentais a que a persona está sujeita... então ele nem fica feliz nem triste...

O Yoga visa o momento, a união entre passado e futuro num presente continuo, onde inevitavelmente o actor sai de cena. O ego e toda a construção da personagem sobrevive graças à sua memória que o recorda quem é e o impele a pensar e agir de determinada forma, condicionado pelo que fez ou deixou de fazer no passado. Esse ciclo continuo é formado por samskára-vásaná-vritti-karma-samskára-vásána-vritti-karma-samskára... Os samskáras são os condicionamentos que temos, os vásanás são as tendencias, as latencias, os vrittis são as ideias, pensamentos, instabilidades da consciência e finalmente karma é a acção. Enquanto não cortarmos pela raiz determinado samskára, este irá reforçar o tal ciclo viciado em que no final a acção reforçará ainda mais o samskára, criando uma bola de neve que parece não ter fim. Esse samskára pode ser entendido como a própria memória, o nosso cemitério particular.
Praticando a fundo o Yoga, estudando-o, reflectindo, observando, discernindo... vamos quebrando esses ciclos, arrancando esses samskáras e tudo o que vem agarrado a ele... no final o que resta? Resta o vazio, o abandono do ser.... e é muitas vezes isto que assusta o praticante, o medo de não-ser, de perder as suas referências, as suas características.... mas afinal o rio quando chega ao mar deixa de ser rio... Quando queremos realmente Yoga (e não apenas aquela ginástica exótica tão famosa) estejamos preparados para isso, para fundirmo-nos no vazio e transcender o ego, ou como muita gente não gosta de ouvir mas eu gosto de dizer: a morte do eu.
Porque afinal Yoga é Samádhi e Samádhi é morte. Morte em vida, é a destruição de Shiva, o perder as máscaras, as capas, as personagens, toda a artificialidade que criámos e reforçámos ao longo do tempo. Todo o mundo não quer sofrer, no fim das contas ninguém quer sofrer, e todas as filosofias e religiões se assemelham nesse ponto: arranjar uma forma de acabar com o sofrimento. No meu entendimento, para deixar de sofrer tenho que deixar de me identificar, pensar e agir sem tomar posse desses pensamentos e acções, sem me julgar o dono disto ou daquilo, sem deixar marca, nem pegadas, tornar-me poroso, tentando interferir o menos possível. E isso só acontece quando abandonamos o eu, quando não o alimentamos, quando abdicamos do protagonismo e da ilusão que isso acarreta. O yogi não renuncia à acção, até porque o mundo é acção e a Natureza não pára, o yogi renuncia aos frutos da acção e por isso não sofre.

Para o Yogi o verdadeiro desapego (vairágya) chega para nos realizarmos, nada mais é preciso. Esse vairágya é aceitar as coisas tal como elas são, nem mais nem menos. Para isso é necessário, em grande parte do processo, abhyása, constante prática e durante um período longo (tão longo for preciso para retirar os samskáras e afins). Esse abhyása é fundamental na prática do Yoga, mantermo-nos firmes, não deixando que a preguiça e outros se interponham na nossa vontade de Yoga. Todo o pequeno esforço que possamos despender em prol do Yoga, receberemos 10 vezes mais, 100 vezes mais em troca... é tão gratificante que fica dificil à pessoa que diz gostar e querer, arranjar desculpas para não o praticar.

Mantras (vocalizações de sons), Kriyás (purificação), Ásana (dinamica e inércia corporal), Bandhas (chaves de retenção e canalização da energia vital), Pránáyáma (respiratórios para expandir e controlar a energia vital), Yoganidrá (relaxamento), Dhyána (meditação), entre outras técnicas, são apenas oportunidades para nos experienciarmos, nos sentirmos, vermos outro ponto de vista e ir pouco a pouco retirando tudo o que não interessa, esvaziando-nos... No inicio parece dificil, suamos e pingamos frustrações, sentimo-nos humilhados (qual o ego que gosta disso?), criamos imensas resistencias... até que um dia conseguimos fluir e deixar-nos levar na prática, conduzidos pela vida, profundamente sintonizados e mergulhados no pulsar criativo universal. Aí, sem esforço algum, deslizamos em Yoga...

Em estado de Yoga não existe um Eu, é isso que experiencio, não me espera um estado de felicidade nem de tristeza, não me espera nada, e é esse nada que me pacifica, é nesse nada ser que encontro a plenitude. E o que resta então? Cabe a cada um descobrir e sentir...

4 comentários:

Anónimo disse...

Sem palavras...:)porque o inexplicável não se explica sente-se...
Um bj grande
Tânia

António disse...

Muito bom...

Anónimo disse...

Yo mano! Ve la q eu ate aqui em italia venho ver o teu blog :)
um abraço

Anónimo disse...

Feliz dia da Terra (22 abril) (e que seja comemorado todos os dias)
- e relato da minha experiência de shamanismo


Olá

Este fim de semana tive uma experiência extraordinária, e gostava de a partilhar.
Para quem não sabe, estive num workshop de shamanismo, no qual vivenciámos umas experiências muito fortes e transformadoras, que passo a descrever.

A cerimónia sagrada era constituída por duas partes, uma em que alcançávamos um estado de espansão da consciência através de um tipo de respiração (semelhante ao bhastrika do yoga, durante cerca de 2 horas), acompanhada de uma música que favorecia esse estado.

A segunda parte da cerimónia sagrada foi mais profunda ainda, e na qual entrámos em comunhão com o espírito da planta sagrada - Ayuaska. Esta podia ser considerada uma droga, pois promove um estado alterado (de expansão) de consciência, mas para isso, segundo essa definição, também teríamos de considerar este tipo de respiração uma droga, pois também promove um estado alterado de consciência.

Para refinar este conceito, esta planta foi baptizada de planta enteógina, ou seja, aquela que promove uma experiência sagrada, ao interior e ao espírito, e que ajuda a reconectar com a luz interior e a luz divina.

Tendo feito as pazes com estes conceitos, entreguei-me à experiência e ao espírito da planta sagrada.

No início da experiência, senti que tinha uma capacidade enorme de dar amor para os outros, e que efectivamente o dava, tendo estado até aí a fazer a aprendizagem de o dar de forma incondicional e desapegada.

Percebi que, ao fazer essa aprendizagem, me dava do fundo do meu ser, e por vezes isso me fazia sentir vazio. Nessa altura, a pessoa que estava ao meu lado na experiência desse dia, por qualquer motivo levantou-se e mudou de sítio, deixando-me sozinho naquele local. Aí percebi que esse padrão se estava a repetir na minha vida, e entrei num processo de culpabilização e de vitimização. Nessa altura o espírito da planta sagrada começou a manifestar-se muito desagradavelmente, provocando-me enjoos, como que mostrando como eu não estava a digerir bem aquela situação.
O meu ser nessa altura sentiu que tinha de libertar essa mal disposição, dando-me uma enorme vontade de vomitar. Então levantei-me para ir à casa de banho, mas a meio do percurso, perdi o contacto energético com este plano, e perdi os sentidos, e caí aos pés de outra participante na experiência (desculpa Graça ☺). Percebi mais tarde, que isso tinha sido o meu ser , que ao se sentir sozinho, foi pedir colo e calor humano à pessoa que sentiu ser a mais acolhedora que estava naquela sala.

Quando retomei a consciência, estava na casa de banho, apoiado pelo Juan. Aí, aceitei e rendi-me à substância, fazendo as pazes com ela, deixando que ela se manifestasse da forma que considerasse ser a mais adequada à evolução do meu ser. Subitamente a mal-disposição passou, não tendo tido necessidade de vomitar.

Ao voltar para o meu lugar, fui tentar perceber o processo e o padrão da solidão que se estava a manifestar.

Assim, percebi que quando me dava aos outros, dando o meu amor incondicionalmente, estava a gastar as minhas reservas, e ficava com a sensação de vazio e de solidão.

Percebi que ao dar incondicionalmente o meu amor aos outros, estava-me a esquecer de me amar a mim próprio.

Percebi que me podia enraizar e ir reabastecer as minhas reservas de amor incondicional sempre que quisesse ao útero da Mãe-Terra, e que podia permanecer sempre ligado e enraizado, continuando a acolher e nutrir os outros, mas em vez de ir buscar essa energia ao fundo do meu ser, ficando por vezes desnutrido, podia optar por ir buscar essa luz e esse amor à fonte divina e ao útero da mãe terra.

Percebi que com essa luz que vinha do útero da Mãe-Terra, que senti como muito acolhedora e quentinha, e com uma vibração cor-de-pêssego, podia acolher, abraçar e “dar colo” ao meu próprio coração.

Assim, aprendi a percorrer o “longo” caminho que vai da cabeça ao coração, e aprendi a amar-me a mim próprio. Então abracei-me ao meu coração, reconfortei-o e criei-lhe um ambiente quentinho e acolhedor, com a ajuda da vibração côr de pêssego da Mãe-Terra, e acendi uma lareira para ajudar a dar um ambiente quentinho e reconfortante. Também coloquei junto a ele, imensas almofadas, e prometi que lhe vinha fazer companhia mais vezes, e deixei espaço também para albergar quem quisesse e precisasse de um bocadinho deste calor reconfortante neste espaço, no meu coração, agora reconectado à grande fonte de amor que é a Mãe-Terra, e também à fonte de energia universal que nos dá energia, vitalidade, prana... (no fundo a fonte é a mesma, mas manifesta-se de várias formas).

Nesta altura, uma pessoa que estava desconfortável no lugar onde estava, levantou-se e veio para o lugar que estava vazio ao meu lado. Por “coincidência” era a mesma pessoa a quem eu tinha caído aos pés (obrigado Graça ☺).

Foi maravilhoso perceber como as situações que nos rodeiam são um reflexo do que se passa cá dentro.

Aprendi que podia manter acesa a chama de amor universal no meu coração, e quando ela precisava de mais energia, podia pedir à presença divina universal ou ao ventre da Mãe-Terra, e imediatamente ela voltava a brilhar com mais força.

Confirmei mais tarde o significado da côr de pêssego: esta vibração reforça a nossa capacidade de nos mimar-nos a nós próprios, e nutrindo o coração do nosso ser, para que quando este está pleno de amor, começar a transbordar e enviar esse amor e calor humano todos os seres que nos rodeiam, espalhando os seus frutos, carregados de sementes para todo o universo.

Senti que nutrindo o meu coração e o meu ser com a chama divina, proveniente do universo ou da terra, ele ficava tão transbordante de amor, que só me apetecia abraçar toda a gente, espalhando essa chama pelos corações de todos os seres.

Re-aprendi também a ver o mundo da perspectiva do coração, vendo o lado optimista em todas as situações, e aprendendo a ver o lado divino em todos os seres, que no fundo apenas querem ser amados, (manifestando isso cada um à sua maneira).

Identifiquei-me com a Mãe-Terra, aprendi a lançar as minhas raizes bem fundo. Percebi que o seio da Mãe-Terra, apesar de estar um pouco saturado, estava a ser nutrido pela energia Divina Universal infinita, pela energia de amor incondicional do planeta Vénus (o único do sistema solar que gira ao contrário – dando energia e amor incondicionalmente, enquanto os outros planetas recebem.

Percebi que ao lançar as minhas raizes bem fundo, podia receber essa energia que alimentava o meu coração, e que podia também descarregar qualquer energia menos agradável para a terra, mas como ela está um pouco saturada, aprendi a transmutar essa energia descarregada, com uma luz dourada ou violeta, facilitando o processo de reciclagem e transmutação da terra.

Aprendi que essa energia, vinda do útero da terra, nutria incondicionalmente todos os seres que nela habitam, tendo a capacidade de fazer germinar as sementes de amor universal dos nossos corações.

Essas sementes ao germinar, ajudavam a fortalecer as nossas raizes, e quando bem enraizadas, desenvolviam-se, fazendo troncos e ramos vigorosos, e se o nosso coração estivesse bem quentinho, podíamos dar flores e frutos, partilhando o amor infinito do nosso coração com todos os seres que nos rodeiam.

Apreendi a alegria de dar (“os frutos”), saciando quem nos rodeava, e assim, espalhando as sementes do amor por todo o lado.

Percebi que todos nós somos anjos, e que temos asas e a semente da pureza no coração.
Só temos de relembrar e re-aprender a voar, eliminando o ego, e reconectando-nos com a presença divina infinita.

Descobri que com as minhas folhas, flores, e frutos, também desabrochavam as minhas asas de anjo (que todos temos, apesar de nem todos termos consciência delas), e com as quais reaprendi a voar (ahhh como é bom voar, que saudades tinha desta sensação....)
Neste voo, re-aprendi a ver o lado divino em todos os seres, e a ver o lado optimista e de luz em todos os seres e situações. Tive consciência que dando atenção a esse lado de luz, estava-lhe a dar energia e força para se manifestar cada vez mais. (aquilo a que damos atenção e em que nos focamos, expande-se)

Percebi que no plano divino do universo, podemos não ver imediatamente o propósito de uma situação, mas se nos afastarmos um pouco, mudando a perspectiva, podemos ver a luz e o propósito divino nessa situação. Senti também confiança no plano divino, para que, mesmo quando não consigo ver imediatamente a luz e o propósito desssa situação, ficar descansado, que o universo encarrega-se sempre de promover o equilíbrio e a evolução, fazendo-nos por vezes experienciar situações para fazermos determinadas aprendizagens. E quando fazemos essas aprendizagens, as situações que estávamos a experienciar, transmutam-se e desaparecem.
Aprendi também que, se ouvirmos os guias e as mensagens que o universo nos vai enviando (através de intuições ou sincronicidades), e corrigirmos o nosso rumo, já não precisamos de passar por experiências de aprendizagem desagradáveis.

percebi que estando ligado à Fonte, pelo coração, tinha capacidade de ser um canal de energia infinita.

Senti que essa é a verdadeira reconexão / religação / Religião (etim: re+ligir = re ligar)

Percebi também que com um pouco de meditação era fácil reforçar essa conecção sempre que quisesse.

Aprendi que podia optar por comunicar e expressar-me a partir do coração, em vez de ser a partir do ego ou da cabeça.


Percebi também que há outras pessoas, que além de darem o seu amor incondicionalmente aos outros, também acolhiam as mágoas e sensações de desconforto dos outros, sendo optimas a darem-lhes colo e calor humano nessas situações, acolhendo as suas mágoas. Essas pessoas são frequentemente chamadas de “mãezinhas”. Mas senti que também elas por vezes se esqueciam de se amar a si próprias. Senti que para essas pessoas, uma boa solução era imaginarem-se a enraizar na Mãe-Terra, para descarregarem as mágoas que recebem e acolhem dos outros (podendo transmutar essa energia descarregada com uma luz dourada ou violeta, para ajudar no processo de transmutação e reciclagem da mãe terra). Através desse enraizamento, também podiam receber esse calor do útero da Mãe-Terra, dando um pouco desse amor para si mesmas, reforçando a chama nos seus corações, para assim, conectadas, poderem continuar a dar colo aos outros sem se esgotarem, nem intoxicando o seu corpo com as mágoas dos outros.

Ahh, como é tão bom voltar a estar ligado à Fonte...

Agradeço aos mestres que me guiaram nesta esperiência, à grande águia dourada, ao arcanjo de fogo, a todos os seres de luz que estiveram presentes, à Mãe-Terra, a Vénus e todos os Venusianos, ao espírito da planta sagrada, ao Juan e seu espirito de grande shamã, à Margarida e seu espírito que senti que também era o de Cleópatra e de Osíris (obrigado por criares um ambiente tão sagrado, que sem ele a experiência certamente não seria a mesma), ao Joao e Yasmin, por me mostrarem este caminho, e por me terem preparado tão bem para ter esta experiência maravilhosa, a todos os mestres e anjos que estiveram presentes, a todos os participantes que contribuiram com a sua presença e energia, particularmente à Graça, por ser tão acolhedora e Rita por reflectir aquilo que eu precisava ver em mim, e obrigado a todos os seres que vão cruzando a minha vida, promovendo ao meu ser aprendizagens, experiências ou simplesmente guiando-me até ao que sou agora.

Um abraço de luz côr-de-pêssego

Paulo, um filho da Mãe-Terra e do Pai-Divino