sábado, maio 05, 2007

YOGA (REGISTANDO O SER)

Pensei bastante antes de escrever este texto e de o publicar. Já há um tempo que não debruço as minhas ideias sobre este papel virtual, mas hoje sinto que tenho de "despejar" algo...


Acabo de ver um documentário sobre a industria do Yoga... foi um apanhado do que se passa no mundo do Yoga com incidência nos Estados Unidos. Bom, hoje em dia o Yoga dá para tudo, inclusive para desunir... tornou-se em algo aparentemente contraditório à sua proposta milenar, a de unir, de integrar, de conhecimento de Si Mesmo, de libertar-se em vida...


Entramos numa escola de Yoga e até cuecas com desenhos dos chakras podemos comprar. Desde de tapetes "especiais" para praticar a toalhas, blocos, fitas, sapatos, canecas, pins, t-shirts com o nome do mestre estampado, porta-chaves, fitas para o cabelo, meias, posters, calendários... e um etc bem longo, podemos encontrar tudo com a "marca" Yoga. Yoga assim, Yoga assado, Yoga antigo, Yoga moderno, Yoga melhor do mundo, Yoga mais completo, Yoga ginástica, Yoga(Pi)lates, Yoga para animais, Yoga para mulheres e Yoga para homens (???), Yoga para bébés, crianças, adolescentes, jovens, adultos, seniores, grávidas, Yoga mais dinamico, Yoga relaxante, Yoga e Meditação (???), Yoga para suar... são tantos os atributos que já nem me apetece descrever mais...


Até competição de Yoga já existe... vamos lá então determinar quem é o melhor Yogi. Como se faz isso? Sabendo quem já se iluminou? Quem está mais iluminado? Ou vendo quem mete o pé na cabeça ou a cabeça no rabo... não é ridículo isto? Até já querem meter nos jogos Olímpicos, epá "medalha de ouro para o yogi... lol.. e portugal leva uma boa equipa de yogis... eles estão a descansar agora depois de uma refeição vegetariana cozinhada pelo grande".... que risota...


A questão é encontrar um ilusório equilibrio entre o 8 (do não a nada que envolva dinheiro e Yoga) e o 80 (do bora lá vender isto como se fossem farturas). E eu sinceramente não sou a pessoa para determinar esse equilibrio, simplesmente deixo ideias soltas para pensarmos (se estivermos pra aí virados) sem querer fazer juízo de valor, ainda que possa parecer já que as palavras sempre nos levam para um lado...


Actualmente tem professores de Yoga que patentearam sequências de Yoga e quem as utiliza vai a tribunal. Ou seja acham-se donos de uma coisa (já nem sei como classificar o Yoga) que tem milénios e que pertence à humanidade. E depois tem os "coitados" que saem dessas organizações e não sabendo fazer mais nada, não tendo criatividade para criarem o seu Yoga, ficam aflitos e à mercê essas imposições que de Yoga nada têm.


Yoga não é moksha, kaivalya (libertação)? Não é descondicionar, libertar, quebrar as barreiras, medos, iluminar o ego, a persona? Não é perceber que sempre fomos, somos e continuaremos a ser o Ser? Que somos a própria vida manifestando-se e suas infinitas possibilidades? Não é conseguir viver em paz consigo e com os supostos demais seres, natureza e universo? Não é unir, integrar?


O melhor yogi não é aquele que vive melhor a sua vida? Que tem um maior sorriso? Entenda-se o sentido do "melhor"...


Será que ainda fazemos Yoga? Será que o Yoga muda ou é a percepção que temos dele que vai mudando com o tempo e espaço conforme nossas expectativas e interesses? O Yoga até acaba por ser uma desculpa para nos conhecermos... agora, também para nos aproveitarmos dos outros?


Sei que é um assunto não linear e que dá panos para mangas... acho que realmente as coisas estão como têm que estar pois fluimos ao ritmo do universo e se há algo que o Yoga me ajuda a perceber é que há que adaptar-se e fluir com a maré, quando sobe nós subimos, quando baixa nós baixamos.


O que me deixa mais triste são as pessoas que tendo experiências de ainda maior aprisionamento em centros de liberdade (centros de Yoga) saem escaldadas com o Yoga, confundindo Yoga com "Méééééstres", com redes, associações, instituições, livros, etc...


Procuro a cada dia nas vivências que partilho com outros praticantes não os condicionar, mesmo sabendo que estou mexendo com os seus átomos átmicos (de átman...lol) não quero que façam de mim um exemplo a seguir. Fujo do "senhor prof simão" ou do "mas como fazer isto ou aquilo?" ou da "choradinha no ombro para resolver problemas" ou "da busca de um paizinho para orientar a sua vida". Gosto de praticar e de ver o pessoal curtindo comigo toda a criação que vai surgindo no momento. Nada me faz mais feliz que ver aquele pessoal sentindo, emocionando-se, questionando, expressando-se à sua maneira, experimentando no laboratório (shala... sala) diferentes formas de/o Ser.


Claro que ganho dinheiro com Yoga. Decidi há uns anos para cá que esta iria ser a minha forma de poder sustentar a minha vida como Simão. Não vejo mal nisso, é válido como outra coisa qualquer... Penso que se trata apenas de não nos aprisionarmos com o próprio Yoga e o poder que ele nos fornece. Antigamente na Índia, as familias reais abdicavam muita vezes do trono, das suas facilidades para se dedicarem ao Yoga na busca do verdadeiro poder, o poder do Ser e ser consciente disso.

"Make sure the fortune that you seek is the fortune that you need..."

Mas claro, isto são ideias, apenas isso, devaneios... continuemos a curtir pois isto é mesmo uma grande curtição... e pensando no que escrevi não posso deixar de rir... eheheh, é uma comédia e das boas...