quarta-feira, junho 11, 2008

YOGA VIVEKA - fim de semana imerso na prática e ensinamento do Yoga

clic na imagem para aumentar


3 dias em boa companhia, imerso na prática e ensinamento do Yoga, com muito sol e kirtan.Para aqueles que queiram aproveitar o calor e a luz do Verão para se reconhecerem melhor: 3 dias de prática de Hatha Yoga Tradicional com shat karma, ásana, pranayama, yoganidrá, mudrá e meditação imbuídos no ensinamento védico.









com as participações especiais de super shiva, super ganesha e super krishna.... eheheh

sexta-feira, junho 06, 2008

A IMPORTÂNCIA DO SÁDHANA

Desabafos de um yoguin...

Há pouco mais de 7 anos que pratico Yoga, tiro alguns meses e fico com o tempo que o transmito em aulas e cursos. O sádhana (prática) ao longo desse tempo sofreu muitas variações de intensidade e regularidade. Se durante anos o Simão levantou-se bem cedinho pela manhã para fazer o seu sádhana, houve temporadas em que a preguiça e falta de disciplina foram mais fortes. Aí, lá arranjava forma de praticar durante o dia ou nas aulas que dava... enfim... todo o dia é Yoga, mas aqui refiro-me à prática em cima do tapete... é que muitas vezes damo-nos conta a dizer que tudo é Yoga só porque fica bem dizer, mas o emocional e mental andam a mil, o ego a cobrar pensamentos e acções e por aí fora...

Tudo é Yoga, se há consciência, se há atitude, se há desapego e se há a percepção de Unidade, tudo é Yoga. Mas para a maioria dos praticantes grande parte do dia é tudo menos Yoga. Nestes últimos tempos tenho questionado bastante a utilização do Yoga dentro de um meio citadino repleto de estímulos que nos enchem a cabeça. O normal é a pessoa acordar pela manhã meio a correr, despachar o pequeno-almoço e ir para o trabalho (tens uns que já perceberam que sabe bem ir praticar logo de manhã antes de se meterem na confusão). Almoçam a correr, passam o dia a olhar para o relógio à espera que as horas passem para assim poderem ir para casa onde se enfiam nos sofás ou a fazer um jantar esquentado no micro ondas; ligam a televisão para se entreterem antes de se deitarem... ao deitar começam a reforçar-se as preocupações criadas durante o dia... " que vou fazer amanhã? contas para pagar... fazer isto fazer aquilo... forma de ganhar mais uns trocos para comprar tal coisa... etc....

Quem pratica Yoga lá arranjou um espacinho de 1h ou 1h30 na sua preenchida agenda, 2 vezes por semana... Então 2x por semana lá vai ele praticar... E aqui chega o ponto que queria focar antes... com tanta coisa para pensar e executar como é que a pessoa vivencia a prática? Será que metade da prática não será para se lembrar que respira (lá está o prof. a martelar "ujjayi", respira!!!) e a outra metade a soltar algumas das muitas tensões e medos que persistem grudados? Então e o Yoga? E a união? Não será que andamos a fazer apenas uns alongamentos e a lembrar que respiramos? Sentamo-nos com cara séria numa postura que deixámos de fazer ao longo dos anos pois preferimos os sofás e cadeiras da moda... para fazer meditação... meditação??? Com tanta coisa na cabeça...

Um dia um aluno perguntou-me o que fazer para conseguir dormir melhor. Ele deitava-se e tinha dificuldade em adormecer e pediu-me que lhe "receitasse" umas técnicas yoguicas. Aí, sem pensar, simplesmente disse: Simplifica a tua vida! Quando digo isto as pessoas olham-me com aquele ar do tipo "ah Simão deixa-te de utopias e vive na realidade! A vida não é assim tão fácil..." Mas claro, se o dia é agitado a mente é agitada, os pensamentos não param e na hora em que queremos dormir têm mais uma oportunidade para se manifestarem...

Bom, com tudo isto quero dizer que não basta fazer umas festinhas no tapete de prática emprestado da “shala” de Yoga 2x por semana. Ainda para mais porque a maioria até nessas 2x consegue faltar.... Quando nos iniciamos no Yoga somos grandes heróis, temos força para tudo, vamos a todas as práticas e cursos, lemos e não sei que mais... com o tempo vamos deixando-nos embrenhar novamente no lufa-lufa e nos samsáras do dia-a-dia... temos dificuldade em manter-nos com vontade e intenção no Yoga...

Aí vai o top das desculpas mais usadas nas baldas à prática (eheheh): "não tenho tempo; tenho uma festa de anos; estou doente; estou cansado (quase sempre o cansaço é mental e a prática só aliviaria esse peso mental); amanhã tenho exame; no outro dia já pratiquei muito, hoje não é preciso (às vezes pensamos que por praticarmos muito num dia acumulamos créditos para a próxima...)"; pratico na semana que vem; não tenho dinheiro (e terá para o maço de tabaco, para beber 2 e 3 cafés por dia, para as festas, noitadas, jantares chiques, novo telemóvel, roupa de marca, plásticas, produtos de beleza...); hoje está frio... ou está calor; tenho coisas para fazer…; ah não dá prof., fica muito longe ....

Os professores de Yoga, esses têm muito aquela do "pratico quando der aulas".

A mente inventa 108 desculpas para não praticar e poucas para o fazer... de manhã o ego diz "não te levantes fica no quentinho", à noite volta à carga: "vai para casa ver aquele filme ou deitar-te na cama ou beber uns copos ou comer uns bolinhos ou vai ao centro comercial encher-me de confortos ilusórios que preencham este vazio existencial..."

Estou a ser duro... eu sei... mas contra mim falo... contras estes samskáras (condicionamentos) que teimam em permanecer... que me fazem permanecer no samsára (roda, ciclo que se repete...) da vida. E apesar de todos os altos e baixos do meu sádhana, o gosto pelo Yoga permaneceu sempre, sempre que penso naquilo que mais gosto é sem duvida a prática e aquilo que sinto ao deslizar em Yoga. Pratico cedo pela manhã porque sempre que o faço a plenitude preenche-me e permanece o dia todo. Aquelas 2 horas valem pelo dia todo, venha o que vier eu sou Yoga, nada está separado de mim, em shánti (paz) nada me afecta. Penso sempre "Se não fizer a prática o que ganho com isso? A resposta é nada! E cada vez mais a preguiça vai perdendo terreno...

E acordar com o corpo duro? Com aquelas dores no pulso ou no joelho, dor de cabeça ou outra coisa? Muitas vezes sinais do corpo a limpar, a esticar, a abrir... fico na cama por causa de um pulso dorido? Vai lá mas é para o tapete e enfrenta as tuas cenas... e claro no final é uma paz e serenidade que não se pagam...

Para mim existem 3 tipos de sádhana: o que fazemos sozinhos, o que fazemos com um professor de Yoga e quando ensinamos, nem que seja pegar num amigo e dar-lhe uma aula só para sentir e mudar a perspectiva. As 3 formas são excelentes e reforçam-se mutuamente. Há que manter a humildade, principalmente quem já dá aulas, para continuar a fazer aulas com os outros, para com respeito unir as mãos em frente ao peito e fazer namaskar... há que ter disciplina e muita força de vontade para todos os dias sentar para praticar, vencer a inércia e comodidade que facilmente se instalam... e ter a coragem, devoção e amor para passar aos outros aquilo que sentimos sem esperar nada em troca, poder partilhar o Yoga é recompensa suficiente...

A prática não chega, há que observar-nos, reflectir, discernir o que é importante, fazer um auto estudo. O estudo dá amplitude à prática e esta dá a firmeza e estabilidade necessárias para prosseguir na senda do Conhecimento que Liberta. Tudo isto faz-me perceber que não existe uma coisa aparte de mim sobre a qual, ou com a qual, eu possa levar a cabo uma acção. Não podendo ser aquele que pratica a acção, desapego-me do papel do personagem por mim criado e de todos os méritos e deméritos que isso acarreta... aí, através do Conhecimento e do Sádhana vou quebrando os elos do ciclo do samsára...

Para mim é muito fácil, se há sofrimento é porque ainda tenho coisas para resolver. Se um dia vem insatisfação ou outra coisa qualquer é porque ainda há coisas para varrer. E para mim o Yoga é a ferramenta ideal para isso, quando há Yoga não há sofrimento já que não há diferença, não há separação, não há conflito... apenas paz. Se cada um vivesse em paz consigo mesmo não haveria problemas. Para quê querer interferir e mudar o mundo quando nós ainda não estamos em paz? Para criar mais confusão?

Fica aqui o meu estímulo para continuarem a praticar o Yoga, não desistam nem desanimem, a recompensa é muito maior! Se gostam mesmo de Yoga há que dedicar-lhe tempo, há que dar importância aquilo que realmente importa. Costumo dizer: se o Yoga está dentro das coisas que mais gostamos de fazer não pode haver desculpa que desvie a nossa vontade!

É nos momentos menos efusivos (quando o ego se sente em baixo, descontente) que temos grandes vislumbres de quem somos e nos mantemos humildes, aceitando as coisas tal como são. Que cada dia e momento sejam uma Unidade (yoga) constante!