terça-feira, julho 10, 2007

RESPONSÁVEL POR SER DIFERENTE

Às vezes a acumulação de insights, ideias, pensamentos, sensações é tanta que tenho que despejar para algum lado... assim surge este texto. Aí vai o que me tem passado pela cabeça ultimamente...

O ser humano tornou-se num ser deveras interessante. Na infância temos tempo e saúde mas não temos dinheiro então aparentemente ficamos privados de algumas coisas; na fase adulta temos dinheiro, alguma saúde mas não há tempo ( é muito comum as pessoas dizerem que não têm tempo. Não têm tempo? Mas se o tempo é uma ideia criada por nós e "absolutamente relativa"...); quando somos idosos aí temos o dinheiro que guardamos, muito tempo mas não há saúde para desfrutar... isto só dá mesmo para rir... passamos metade da vida gastando saúde para ganhar dinheiro e a outra metade gastando o dinheiro para ganhar saúde...

E assim vivemos... saímos do campo e construímos cidades. Saímos de um sistema de auto-suficiência onde cultivávamos o nosso alimento, construíamos a nossa casa, deslocávamo-nos pelo nosso pé... para um sitio onde estamos dependentes de um liquido negro, onde nos julgamos citadinos e independentes e cosmopolitas mas estamos completamente dependentes do campo, da terra, da natureza.

Criámos necessidades e temos que satisfazê-las, cada vez necessitamos de mais coisas e não nos damos conta disso, cada vez mais dependentes, cada vez mais separados... Nascemos de graça e passamos a vida a pagá-la... que estranho. Temos que trabalhar para pagar um bocado de tijolo, uma caixa em cima de outra caixa, ao lado de outra caixa, debaixo de outra caixa... uma caixa com divisões e com mais caixas lá dentro (plasmas e tecnologias afins...). Trabalhamos também para pagar a comida que nasce de graça da terra, era só estender a mão... trabalhamos para pagar meios de nos deslocarmos pois queremos fazer muita coisa em muito sitio... trabalhamos, claro, para proporcionar-nos momentos de descontracção e bem-estar que perdemos por dependermos e trabalharmos... eheheheh

Estamos no meio de uma bola de neve que aparentemente não tem fim, ninguém encontra uma saída... vemo-nos no meio disto e não sabemos como sair... e que tal ir ao inicio ou pelo menos ao que nos lembramos? Porque sofremos? Porquê esta insatisfação constante?

Sinto que tem a ver com a diferença... desde pequenos que fomos ensinados a estabelecer diferenças... conversas do tipo: Isto é preto aquilo é branco, olha um homem e uma mulher, isto é bom, aquilo é mau, isto é uma árvore, aquilo um carro, e mais e mais e mais. Demos nomes às formas, distinguimos tudo, tudo tem marca, tudo catalogado, tudo diferente... e cada vez nos especializamos mais, mais diferença e mais e mais... categorias para tudo, estágios, níveis, diferentes corpos, diferentes métodos, religiões, filosofias.... que confusão nos metemos... e depois elegemos um bando de pessoas cheias de contradições para nos governar... pois nós já não sabemos o que fazer...

Agora temos que saber ler e escrever, quem não o sabe é algum ET... mas precisamos de ler porque foi criada essa necessidade... apeteceu-nos escrever e agora temos que ler as idiotices que escrevemos (as minhas por exemplo). Criámos a linguagem para nos entendermos... hoje existem centenas de línguas e dialectos... entendemo-nos cada vez menos... as palavras moldam os nossos pensamentos... pensamos com palavras... mas as palavras são duais, reforçam a diferença mais uma vez... conversa é de DOIS não de UM. Cada palavra contém o seu contrário e está sujeita a inúmeras interpretações... não nos entendemos porque falamos demais... queremos tudo mas não temos nada... continuamos vazios... queremos encher esse vazio mas o que fazemos é atafulhar-nos em ideias, em pensamentos, em buscas, em julgamentos...

Não fluímos, estamos presos a essas ideias, cristalizados... se alguém nos toca, nos surpreende, nós assustamo-nos e rapidamente queremos voltar ao nosso canto... não nos deixamos levar pela vida... queremos controlá-la, ser responsável... mas responsável do quê? Uma pergunta: És responsável pelo teu coração bater? Eu não! Se nem isso controlo quero controlar o quê? Ser responsavel do quê? De uma caixa? De um filho supostamente meu (que egoísmo) de dinheiro... Toda a gente quer que eu seja responsável... mas do quê? Queremos muletas para tudo... vai à tua vida! E depois queremos ajudar os outros... ok pausa aqui...

Entra o Yoga... yoga=união... espero que sim. A ideia é perceber que somos 1 Ser, com infinitas possibilidades, mas um único Ser. Então que outros há para ajudar? E mais, se o ser é tudo precisa de ser ajudado em quê? Não será o ajudar o acto egoísta? Não vemos todos o mundo com os nossos sentidos? Não é o mundo um produto da minha mente? Não estamos sempre connosco em todas as situações? A maior ajuda é ser livre, ser independente... ser independente e fluir... entregar-me à vida pois sei que só há 1 ser e nada pode correr mal...

Deixemo-nos de conversa de 2, aliás deixemo-nos de conversa... é tudo ideias... a morte, o nascimento... ideias... a vida é ausência de morte, a morte ausência de vida... ideias...

Inspira... expira... inspira... expira... abandona, descontrói, tem a coragem de te entregar à vida pois a vida és tu mesmo... deixar de andar em círculos... tu és o centro...

E assim reduzo os meus discursos... as minhas falas... e encontro no silêncio o 1, o Ser, eu próprio, sem diferenças, sem graus, compreendendo que nada há para alcançar, que não preciso de me esforçar para nada, que não preciso de ser responsável pois nada há para ser responsável...

expiro... solto... abandono-me... esvazio-me...deixo-me ir.... fluo.... sou...

6 comentários:

anacardoso_arte@hotmail.com disse...

Olá Simão! ET..é bem verdade, por vezes é como se sente..até eu própria considero-me tal e aí complico tudo, misturo tudo, grande novelo cheio de nós!Tudo isso para fugir a ser alienígena.Parvoíce da grossa, é o que é, porque só encontro complicação, saturação, estupidez ao ser mais uma ovelhita. É nessa altura que digo: Ufas! mas que raio de coisa é esta? Cachopa acorda!ehehehe E é complicado voltar a sentir, porque falar é fácil e fala-se e diz-se muito. Mas depois já não é. Já não é difícil. É fluir. É. Pronto, nem há discussão para tal. he he heee..
Ah amigo, continua a viver, beijinho grande!

Ana

Anónimo disse...

… e é tão bom, tão gratificante reconhecer o quão sábia e magnifica é a Natureza e o quanto pequeninos somos nesta imensidão, não somos “maiores” ou “melhores” que uma ave, um mamífero ou um insecto…somos apenas diferentes, nada mais! Fazemos todos parte de UM, todos temos um lugar (escolhido sabiamente pela mãe Natureza) que nos permite contribuir para um equilíbrio, e sendo diferentes, podíamos ao menos contribuir de uma forma consciente para isso, mas nada fazemos para além do oposto…

Em todos os tempos procurámos uma caixinha, e nessa caixinha esperámos encontrar um estado de felicidade infinita… LOL, mas essa caixinha está em nós, não é preciso procurar mais… se não a reconhecemos é porque talvez ainda não tenhamos aprendido a reconhecer a beleza e a felicidade nas mais pequenas coisas que existem ao nosso redor, ela não está só nas grandes coisas…

E para além desta felicidade aprender a Amar, amar tudo… o sol que nos aquece, o mar que nos embala e desperta, o pássaro que voa, a árvore que nos protege e fortalece, o sorriso de alguém, o olhar de quem se cruza connosco no caminho, a pedra no asfalto… tudo! Como se todos juntos fossemos um SER gigante!

Um Bjo


P.S: Ser livre… ser livre é fácil, difícil é saber manter esse estado de liberdade!

Anónimo disse...

gostei mto do texto ! É bom ver escritas coisas nas quais pensamos bastante mas q nunca encontramos o momento ou as palavras exactas para nos expressamos ... já tinha saudades deste simão revolucionário e clarificador! jejejeje

Foi realmente um texto mto, mto interessante e bastante claro do q é ser ...

Bjs
Mar

gato xara disse...

Olá viva Simão!
Apareço aqui neste espaço de comentários pela primeira vez, mas já tenho espreitado algumas vezes, de forma esporádica, este canto que criaste neste virtual mundo. Obrigado pela tua partilha, pelo estímulo que são as tuas palavras. Como nascem de uma vontade livre, de uma vontade de expressão verdadeira e audaz, são ainda mais fortes porque traduzem também muitas das coisas que pensamos e sentimos, ou que eu penso e sinto :-) É um grande estímulo! Sem dúvida que, tal como dizes, "A maior ajuda é ser livre, ser independente... ser independente e fluir..." Fluir, sim!
Abraços, e tudo de bom para ti, para todos nós - que o nosso melhor como seres humanos brilhe semrep com intensidade* :-)

PsiTra disse...

Gostei deste texto...no entanto, como os comentários me parecem de pessoas cegas que só querem adorar a D...a Sim...o Ser :P ... deixo aqui umas achegas para te trazer de volta à Terra (como bom amigo que sou) :)

- as caixas pagam-se, já na idade da pedra se pagavam: quem não ía à caça (homens) ou não preparava as refeições (mulheres) não tinha direito a dormir na caverna e tinha de se arriscar às intempéries e aos predadores; hoje não é diferente.

- a mim parece-me que falas das dificuldades de viver em sociedade, daquilo que prescindimos para termos a protecção do grupo, para termos água na torneira em vez de a buscarmos a km de distância ou comida à porta de casa (pois muito poucos terão sido os humanos que ao longo da história terão vivido na abundância idílica que fantasias)

- é verdade que somos responsáveis por ser diferentes mas há outra escolha mais básica: o bicho homem ou o bicho bicho...não há escolha perfeita!

Um abraço

Pedro Maha Guru, Maha Swami, Raja Sadhu, Maha Shiva Avatar, diplomado na Lua sob os ensinamentos das estrelas e do Amor Cósmico e cheio de Shanti

Ana Filipa disse...

Sabes qual é a sensação de ler ou ouvir na voz dos outros as tuas próprias ideias?!? Acabei de a experimentar e só me apetece rir looool

Costumo ter dissertações muito semelhantes à que acabei de ler e o pessoal ri-se como se não houvesse amanhã pois acha piada à "maluka da Ana que passa a vida a pensar na vida,na paz, no amor, e na verdade como fonte de felicidade, em vez de a gozar o momento"!

É mesmo giro voltar a encontrar gente que pensa como eu :D

Chamem-nos tolos ou o que quiserem...Pelo menos temos a liberdade de exprimir o que realmente nos vai na alma.Isso sim é gozar a vida na sua plenitude.

Adorei este post...

:D

Ana Filipa