quarta-feira, maio 19, 2010

MEDITAÇÃO SOBRE VALORES

Por Swami Paramarthananda


Meditação sobre o Ódio - Parte 1

Quando qualquer pessoa ou objecto cria descontentamento na nossa mente, a primeira reacção é de irritação ou de raiva e essa irritação ou raiva é convertida em ódio. A raiva ou a irritação pode ser momentânea, mas o ódio fica permanentemente na mente. Mesmo passados vários anos, o próprio nome da pessoa traz o ódio à mente e esse ódio perturba a mente.

Uma mente cheia de ódio nunca poderá ser relaxada ou pacífica. Ódio corrói a mente como o ácido. Quando odiamos os outros o nosso próprio coração queima. A nossa própria mente é ferida. Desta forma, o ódio é um castigo a nós mesmos por um erro de outra pessoa.

Quando desenvolvemos ódio contra diferentes pessoas, diferentes objectos e diferentes situações, a nossa mente torna-se completamente desequilibrada. Ela nunca pode desfrutar de saúde normal. Ela torna-se numa mente doente. Com esta mente doente, ao escutarmos Vedánta, o conhecimento nunca fica registado na mente. Mesmo que o conhecimento se registe em tal mente, torna-se puramente académico. Ele não nos beneficia.

Portanto, como buscadores, devemos olhar para o ódio como um problema crónico muito sério. A menos que o tratemos especialmente por um período considerável de tempo, o ódio nunca se afastará. Uma abordagem casual nunca poderá funcionar. Assim, eliminar o ódio deve ser um projecto importante na nossa vida. Dia após dia, devemos lembrar-nos disso e estar sempre alerta.

O ódio vem porque eu não sou capaz de suportar/enfrentar este prazer ou desconforto. É sinal de uma mente fraca. Uma mente fraca fica irritada com as pessoas e coisas e uma mente fraca rapidamente desenvolve ódio. Portanto, a única forma é fortalecer a mente. Minha mente deve ser forte o suficiente para lidar com qualquer crítica ou mau comportamento dos outros, sem desenvolver irritação ou ódio.

Eu posso tratar pessoas diferentes de forma diferente. Mas não desenvolvo ódio de forma alguma. Sempre que há uma ferida no corpo, posso dar um tratamento doloroso, mas eu não odeio o meu corpo. Da mesma forma, eu posso ter que tratar as pessoas com severidade, eu posso ter de lidar com as pessoas de forma diferente. Mas certifico-me de que não desenvolvo ódio para com elas. Estou interessado no seu bem-estar. Desejo-lhes bem. Peço a Deus para o seu crescimento e maturidade. Isso só é possível se a minha mente é muito forte e eu posso fortalecer a minha mente com a oração e auto-sugestão.

Peço ao Senhor para me dar uma mente forte e depois de cada oração eu sinto que sou forte. Digo a mim mesmo que eu sou forte. Pela graça de Deus, estou mentalmente forte. Eu não odeio ninguém neste mundo. Eu não quero odiar nem mesmo o pior inimigo cujo negócio só está a prejudicar-me. Eu simpatizo com a sua imaturidade. Eu rezo para o seu crescimento. Apesar de eu sofrer por causa dele, eu não quero odiá-lo. Posso não ser capaz de amá-lo. Isso exige mais força, mas primeiro desisto do ódio.

Eu não odeio ninguém. Eu não odeio ninguém.

Eu estou calmo, estou relaxado, estou relaxado…

ŚĀNTOHAM
ŚĀNTOHAM
ŚĀNTOHAM
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Meditação sobre o Ódio - Parte 2

Voltamos a ter o ódio ou dvesa, agora de forma mais elaborada. Devido a dvesa, a nossa mente está sempre perturbada e jamais poderá desfrutar da paz de espírito. A nossa busca espiritual é bloqueada por este dvesa. Uma mente cheia de dvesa nunca poderá ganhar o conhecimento: "Eu sou o todo, eu sou Brahman". Se ganharmos este conhecimento, não rejeitaremos ninguém neste mundo. Se tivermos de ser Purnam, não podemos rejeitar nenhuma coisa neste mundo. Nós temos que aceitar tudo, acomodar tudo. Nós não podemos odiar qualquer coisa neste mundo. Na Gita, o Senhor diz: "Adveshtá sarvabhútánám".

Se eu tenho que me livrar desta fraqueza, tenho que primeiro descobrir que é o maior obstáculo para a minha evolução espiritual. O ódio contra qualquer pessoa é injustificável, ilegítimo e prejudicial. Muitas vezes eu tento justificar o ódio. Eu descrevo o comportamento ou acções da pessoa que eu odeio e quero portanto concluir que odeio essa pessoa. Eu quero encontrar condições para o ódio. Eu ainda sinto que estou certo em odiar essa pessoa. Mas lembro, as escrituras nunca concordaram com esta opinião. Não existe ódio justificado. Ódio em quaisquer circunstâncias não é saudável e é um obstáculo para a libertação (moksha).

As pessoas podem comportar-se de uma maneira perversa, a sua linguagem pode ser bruta, suas acções podem prejudicar os outros e, muitas vezes, eu posso ser a vítima. As escrituras não dizem que eu devo aceitar a situação cegamente. Eu posso tentar fazer o meu melhor para que a pessoa melhore e se arrependa. Eu posso mudar a situação. Posso usar a reconciliação (Shama), concessão (Dana), enfraquecimento (Bheda), ou por último, castigo (Danda). O que quer que eu faça, eu não deveria odiar a outra pessoa. No fundo do meu coração eu desejo o bem para a pessoa. Eu não amaldiçoo a pessoa.

Quando tenho uma ferida num dos meus membros sinto dor. Eu trato a ferida. Por vezes o tratamento é doloroso, mas no fundo do meu coração eu não odeio esse membro porque ele é uma parte de mim. Eu dou o tratamento apenas por amor. Da mesma forma, cada ser humano é como um dos meus membros. Alguns membros são saudáveis e alguns não. Mas todos eles me pertencem.

Eu não odeio ninguém. Isto não é uma coisa fácil, mas é uma obrigação para todos os buscadores. Sem abandonar o ódio, todo o estudo das escrituras não terá nenhum valor. Eu posso ser um estudioso. Posso citar as escrituras. Eu posso ensinar o mundo inteiro, mas serei um Samsari enquanto não abandonar o ódio. As escrituras não dão nenhuma escolha nisto. O ódio só pode ser abandonado quando a mente é forte.

A mente fraca odeia, uma mente forte aceita. A mente fraca rejeita, uma mente forte acomoda.

Então eu peço ao Senhor que me dê força para acomodar todos sem odiar ninguém. Mesmo que amar seja difícil pelo menos eu posso parar de odiar os demais.

Eu não odeio ninguém. Eu aceito todos, apesar das suas fraquezas. Eu não odeio ninguém.

Eu aceito todos, eu aceito todos, eu aceito todos.

ŚĀNTOHAM
ŚĀNTOHAM
ŚĀNTOHAM
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Estas meditações são da autoria do Swami Paramarthananda. Foram retiradas do site yogamalika.org e traduzidas para o português por Simão Monteiro
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1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Simão :-) Como estás?
Gosto muito do teu texto sobre meditação sobre valores , aprendi muito ,-)

Espero que nos encontremos um dia com o Luis para conversarmos , já há muito tempo que não nos vemos ;-)

Susana Antunes